O marketing digital está em uma transformação acelerada, impulsionada por avanços tecnológicos contínuos, mudanças profundas no comportamento do consumidor e desafios globais que redefinem estratégias, métricas e canais de atuação.

Considero que os próximos anos vão ser verdadeiramente «loucos» na área do marketing digital. Há uma incerteza real sobre o rumo do setor, não porque o marketing esteja a perder relevância, mas porque está a mudar mais depressa do que nunca, empurrado por novas plataformas, formatos e hábitos de consumo cada vez mais imprevisíveis. A cada trimestre surgem novas regras do jogo, da privacidade aos algoritmos, e as marcas vão ter de aprender a adaptar-se em tempo quase real.

Ao mesmo tempo, estamos a assistir a uma implementação massiva da inteligência artificial nos processos de trabalho. A IA vai acelerar tarefas, automatizar decisões, otimizar campanhas e até ajudar a produzir conteúdo, tornando equipas mais rápidas e eficientes. Mas essa velocidade também traz desafios tecnológicos e estratégicos, dependência de ferramentas, uniformização de mensagens, excesso de conteúdo «correto» mas vazio, e a necessidade de reforçar a ética, a transparência e a confiança.

Ainda assim, há uma coisa que considero certa, a criatividade nunca poderá ser totalmente substituída por algoritmos. A criatividade humana é o que dá intenção, sensibilidade e significado às ideias, é o que transforma produtos em experiências e marcas em relações. É no olhar humano que nasce a originalidade, a coragem de fazer diferente e a capacidade de tocar pessoas de forma genuína, mesmo num mundo cada vez mais automatizado.

Pesquisa conversacional e AEO (Otimização para Motores de Resposta)

A forma como os utilizadores pesquisam está a mudar radicalmente de palavras-chave fragmentadas para conversas naturais com assistentes de IA. Em vez do SEO tradicional, a prioridade para 2026 é a Otimização para Motores de Resposta (AEO), onde o objetivo é ser a resposta direta e confiável citada por plataformas de inteligência artificial.

Renascimento da Autenticidade Humana

Num cenário cada vez mais saturado por conteúdos produzidos por IA, o toque humano afirma‑se como o principal fator de diferenciação. Os consumidores passarão a procurar ativamente marcas que evidenciem curadoria humana, bastidores autênticos e valores éticos claros, rejeitando conteúdos que soem artificiais ou excessivamente automatizados. A abordagem mais eficaz será um modelo «híbrido»: recorrer à IA para ganhar eficiência operacional, sem nunca abdicar de uma voz de marca genuína e de relações verdadeiramente humanas com o cliente.

Omnicanalidade Real (Phygital)

A fronteira entre o online e o offline desvanece‑se por completo, graças a uma integração fluida de dados entre a loja física e o ecossistema digital. O foco passa a ser uma experiência verdadeiramente unificada, em que o cliente é reconhecido e acompanhado em qualquer canal, permitindo que interações online (como ver um produto no Instagram) orientem o atendimento na loja física e que a experiência presencial alimente, de forma inteligente, a comunicação digital.

No próximo ano, fazer marketing digital é saber orquestrar tecnologia, dados e humanidade de forma inteligente. As marcas que irão destacar‑se não serão necessariamente as que tiverem mais recursos, mas sim as que conseguirem alinhar três elementos, serem encontradas nas novas formas de pesquisa, construírem relações autênticas num contexto saturado por IA e oferecerem uma experiência contínua entre o mundo físico e o digital.​

Mais do que seguir modas, o desafio estará em fazer escolhas estratégicas, usar a inteligência artificial como alavanca e não como muleta, colocar a criatividade no centro das decisões. Quem conseguir combinar eficiência tecnológica com profundidade humana não só acompanhará as tendências de 2026, como estará melhor preparado para tudo o que vier a seguir.

Fábio Jesuíno é empresário

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