Entre 29 de setembro e 9 de dezembro, foram capturados 35 linces-ibéricos no âmbito da campanha anual de monitorização que visa aferir o estado em que se encontra a população destes animais que vivem em liberdade em Portugal, um número recorde desde que se iniciaram estes trabalhos, em 2018. Ao todo, foram 26 dias de campo na zona do Vale do Guadiana, que começaram a sul, em Odeleite, e terminaram a norte, na zona de Serpa.
Nas oito áreas exploradas foram capturados 35 linces, nove deles ainda juvenis. Vinte e dois animais receberam colares emissores equipados com tecnologia LoRaWAN, capazes de comunicar com a plataforma Waze e alertar condutores sempre que um lince se aproxima de troços de estradas perigosos. Estas campanhas são realizadas anualmente pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) desde 2018, e têm como objetivo fazer a recolha de informação sanitária rigorosa, sendo esta a principal base do esforço de conservação desta espécie.
Cada exemplar capturado é identificado, fotografado, examinado, vacinado e são recolhidas amostras para análises biológicas e genotipagem. Sempre que possível, o animal é equipado com um colar emissor. Estes dispositivos ajudam a detetar sinais precoces de problemas físicos, mas também revelam comportamentos e deslocações que permitem mapear riscos reais no terreno. Foi assim que se identificaram os troços de estrada mais perigosos, onde a velocidade dos carros e a curiosidade natural dos linces formam uma combinação letal — uma ameaça que só pode ser enfrentada com dados precisos e com atuação rápida. No final dos trabalhos, de monitorização, os animais são libertados no seu habitat natural.
Nestes trabalhos estiveram envolvidos diversos técnicos, vigilantes da natureza e agentes florestais, cuja experiência e persistência fizeram de 2025 o ano com mais capturas e mais linces marcados desde o início do programa. Esta foi a última campanha integrada no projeto LIFE Lynxconnect, uma iniciativa conjunta de Espanha e de Portugal, que está a redesenhar o mapa de sobrevivência da espécie.
Recorde-se que o lince-ibérico deixou de ser considerado uma espécie «Em Perigo» de extinção a nível ibérico em 2024, passando a ter uma classificação de «Vulnerável» na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. Esta recuperação constitui um dos melhores exemplos de ações de conservação de espécies ameaçadas no mundo, graças aos esforços continuados das administrações públicas competentes, de entidades setoriais interessadas, proprietários e gestores de herdades privadas e pela sociedade em geral, e da UE, através do programa LIFE.
Segundo o último Censo do Lince-ibérico, a espécie superou a barreira dos 2 mil e 400 exemplares em 2024. Existem 2 mil e 401 linces recenseados, entre Espanha (2 mil e 47, 85,3 por cento) e Portugal (354, 14,7 por cento), dos quais 1.557 são adultos ou subadultos e 844 são crias nascidas em liberdade.