Desde jovem, criando estruturas associativas e comunitárias, habituei-me a trabalhar com os outros e para os outros. Atualmente, vulgarizou-se chamar «empreendedor» a quem promove este tipo de iniciativas, sejam privadas, sejam públicas. Tendo tido, nalguns casos, um papel de liderança, tentei - sempre - motivar pela conduta e pelo exemplo. Como tal, senti que é na dádiva, reciprocidade, partilha, respeito e reconhecimento que residem os segredos para que as empresas e empreendimentos possam vir a ter sucesso. Foi aquilo que, desde sempre, chamei o «Espírito de Natal».
Efetivamente, quando pensamos no Natal, imediatamente vem-nos à mente imagens e recordações da época natalícia, festejada em dezembro com ruas iluminadas, árvores decoradas, famílias reunidas, mesas bem compostas e a expectativa da troca de presentes. Contudo, há algo de mágico em celebrar «Natais fora de época»: são os momentos em que o espírito natalício se manifesta muito para além do calendário oficial, em dias inesperados e situações improváveis.
O Natal, para muitos, simboliza união, generosidade e esperança. Embora tradicionalmente associado ao dia 25 de dezembro, o verdadeiro significado do Natal transcende datas e convenções. É possível viver o Natal em qualquer momento do ano, sempre que gestos de bondade, partilha e perdão aconteçam.
Há quem se recorde de um momento especial celebrado num hospital, num outro mês qualquer que não o de dezembro, quando familiares se reuniram em torno de um ente querido e criaram um ambiente de afeto, carinho e de esperança. Outros talvez tenham vivido o espírito natalício numa rua deserta ao preparar ou distribuir uma refeição solidária para um qualquer sem-abrigo. São momentos em que há tempo para o tempo e o coração se enche de alegria, independentemente do dia do ano.
Celebrar Natais fora de época é reconhecer que a generosidade, a compaixão e o sentido de comunidade podem – e devem – ser vividos todos os dias. Um gesto de carinho inesperado, uma palavra de apoio, ou simplesmente a presença num momento difícil, podem transformar qualquer dia num Natal especial.
Natal fora de época desafia-nos a repensar tradições e a valorizar o que realmente importa: as pessoas, os sentimentos e a capacidade de fazer a diferença. Ao vivermos o espírito natalício para além de dezembro, trazemos mais luz ao nosso próprio caminho e ao dos outros, tornando o mundo um lugar mais caloroso e humano - todos os dias do ano.
Tal como todos dias é Natal, pois todos os dias alguém nasce, façamos nascer em nós, todos os dias e em cada gesto, também o espírito de Natal. Bem precisamos!
Paulo Cunha é professor
Crónica publicada em:
Foto: Daniel Santos
