A menos de dois meses das Eleições Presidenciais, o país tenta adivinhar quem será o «senhor que se segue» no Palácio de Belém.
O estado de espírito é semelhante ao que ocorre sempre que se inicia um novo ciclo político. A maior diferença resulta na possibilidade de um cidadão independente estar a concorrer, aparentemente, em pé de igualdade com os candidatos apoiados pelos grandes partidos políticos.
Será mesmo assim?
Não!
Portugal habituou-se a viver num limbo entre o «ser» e o «dever ser». No caso da Presidência da República, pretende-se que seja um alto magistrado independente e equidistante da política partidária e governativa, mas que seja um fruto dessa mesma política partidária. Tem de ser isento na atuação política, mas com uma clara tendência ideológica e político-partidária.
O eleitor português não consegue conceber a existência de uma política de cidadania, que se sobreponha à política partidária, preferindo votar nos candidatos apoiados pelos partidos, do que em candidatos independentes, gerados na sociedade civil.
Há décadas que a comunicação social tenta fabricar um candidato presidencial, que consiga demonstrar a influência do denominado «quarto poder». Em 1997, numa entrevista, Emídio Rangel afirmava que a SIC “vende tudo, até o Presidente da República! Vende aos bocados: um bocado de Presidente da República para aqui, outro bocado para acolá”.
A primeira tentativa de produção de um candidato presidencial por parte da comunicação foi híbrida e pretendia juntar o melhor (ou pior) dos três mundos. Manuel Alegre, antigo jornalista, poeta, histórico do PS e Deputado, pareceu a escolha certa para seguir como candidato da sociedade civil nas Presidenciais de 2006, contra Mário Soares, o candidato escolhido pelo seu partido. Ficou à frente da escolha socialista, mas a divisão de votos permitiu a vitória de Cavaco Silva à primeira volta.
Chegaram à conclusão de que um candidato saído de um partido político dividia o eleitorado do próprio partido e as escolhas seguintes evitaram repetir esse erro. Fernando Nobre, em 2011, e Sampaio da Nóvoa, em 2016, pretendiam aglutinar ideologias, sem beliscar partidarismos. Ambos falharam.
Para estas Presidenciais, a escolha do «quarto poder» foi melhor trabalhada. Começaram por fabricar um herói nacional, um mito, algo que misturasse o sentido patriótico de uma nação ligada ao mar e aos descobrimentos, com a boa imagem da força militar, juntando-lhe uma áurea de independência, de mistério, transcendência. O homem certo, para o lugar certo, burilado ao longo de quatro anos.
Será suficiente?
Dia 18 de janeiro os portugueses revelarão o seu sentido de voto e só então saberemos se essa escolha da «cidadania» conseguirá ir a uma segunda volta.
Pelas experiências do passado, particularmente não acredito nessa possibilidade. Não está em causa a capacidade ou qualidades pessoais do candidato para o exercício do cargo, mas a falta de uma estrutura de apoio sustentável. A comunicação social é importante na promoção social, mas não dispensa, por si só, a logística e a dinâmica de vitória, que conduz à vitória.
Na fase da pré-campanha, os candidatos de «cidadania» têm sempre conseguido maior projeção do que as escolhas partidárias. No entanto, na campanha que decide votos, as máquinas equipadas e oleadas dos partidos recuperam vantagem e os resultados têm sido dececionantes.
A República Portuguesa ainda tem uma longa caminhada a fazer na valorização da «política de cidadania». Espero que a faça, com firmeza, mas… Ainda não será este o tempo.
Nuno Campos Inácio é editor e escritor
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