A Fundação Pedro Ruivo está
a assinalar os 20 anos de atividade e um dos pontos altos do programa de
comemorações foi, sem dúvida, o concerto de Tito Paris no Teatro das Figuras,
no dia 28 de maio. Antes disso, estivemos à conversa com Maria de Jesus Bispo,
presidente da Direção praticamente desde o nascimento desta entidade, que falou
do trabalho realizado em prol da cultura ao longo de duas décadas, das
dificuldades sentidas nos últimos anos, dos projetos em mãos e do futuro de uma
fundação que continua a desempenhar um papel importante na região algarvia.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
A Fundação Pedro Ruivo nasceu da força e querer de um homem,
Pedro Ruivo, que toda a sua vida apoiou e seguiu de perto a carreira da esposa,
Maria Campina, pianista de grande projeção internacional. O casal sempre se
mostrou empenhado na divulgação da cultura e esta instituição sem fins
lucrativos surgiu precisamente para identificar, promover e criar atividades
artísticas e educacionais, divulgar e debater ideias, acima de tudo,
impulsionar o desenvolvimento social e cultural de toda a região algarvia.
Antes disso, em 1972, Maria Campina viu concretizado o sonho
de abrir uma escola de música, a primeira no Algarve, num espaço cedido pelo
Teatro Lethes até 1992, ano em que foi construído o Conservatório Regional do
Algarve Maria Campina. Quanto a Pedro Ruivo, consciente da falta de uma
formação artística de rigor na região, e sabendo da existência de jovens
dotados, mas com carências económicas, deixou estabelecido em testamento a
vontade de criar uma Fundação com o seu nome e na qual depositou meios
financeiros para a sua execução. Assim, em meados de 1994, foi criada uma
comissão pró-Fundação da responsabilidade da Direção do Conservatório e, com a
ajuda de amigos, surge finalmente a Fundação Pedro Ruivo. Com o espólio legado
por Pedro Ruivo foi ainda criado um museu em memória de Maria Campina, com o
intuito de recordar a vida e obra de tão importante pessoa no panorama
artístico do Algarve.
Duas décadas depois, encontramo-nos à conversa com Maria de
Jesus Bispo, presidente da Direção desde a entrada em atividade da Fundação
Pedro Ruivo, também ela consciente da falta de espetáculos culturais de qualidade
no Algarve naquela época, aliás, o auditório da entidade era praticamente o
único existente na região. “Começamos a fazer óperas, uma verdadeira inovação
para o público algarvio, que olhou para nós com ar desconfiado. É um produto
algo elitista, mas as pessoas, felizmente, aderiram. Fizemos também bons
concertos com orquestras internacionais e apresentamos ballets, entre outras
novidades”, recorda Maria de Jesus Bispo, sem esquecer, claro, o Concurso
Internacional de Piano Maria Campina, cujo objetivo primordial era promover os alunos
que tiravam o curso de piano no Conservatório Regional do Algarve. “Além disso,
fizemos investigação do Cancioneiro Popular, temos um livro publicado, e
material para lançar outro, mas as condições económicas não são as mais
favoráveis e atravessamos uma fase algo complicada”, reconhece a dirigente.
Dificuldades que advêm da crise que se instalou no país, é
verdade, mas também da enorme oferta cultural que foi surgindo no passado
recente e com a qual a Fundação Pedro Ruivo não consegue competir, nomeadamente
os eventos dinamizados pelas câmaras municipais. “As autarquias têm os seus
teatros e auditórios municipais com uma programação própria e nós somos uma
fundação sem grandes meios financeiros. Eu tento aplicar os meus conhecimentos
de empresária para fazer bolos sem ovos – conseguimos trazer cá o Tito Paris,
no dia 28 de maio – mas não é fácil”, desabafa Maria de Jesus Bispo, lembrando
mais uma inovação desta entidade, um festival de música africana que se
realizava no Largo da Sé, em Faro. “E alguns fadistas que, hoje, têm uma grande
carreira, como é o caso da Mariza, passaram primeiro pelo nosso auditório”,
acrescenta a entrevistada.
Ninguém duvida, por isso, que a Fundação Pedro Ruivo
desempenhou um papel importante na sociedade algarvia ao abrir-lhe os
horizontes para outras formas de expressão artística, numa altura em que a
região já estava focada no turismo mas que, em termos culturais, ainda denotava
grandes lacunas. “Partimos muita pedra até que o nosso público começasse a
apreciar algumas das coisas que trazíamos e tivemos vitórias que muito nos
animaram, com casas cheias com o ballet e a ópera. Ainda recentemente tivemos a
Ópera de Pequim, em colaboração com o Observatório da China, que é bastante
interessante e demonstra a cultura dos chineses através da dança. Inauguramos
também há pouco tempo uma exposição de gravuras e esteve cá o Embaixador da
China”, conta, revelando, assim, mais uma faceta da Fundação Pedro Ruivo.
Leia a entrevista completa em:
https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__60
https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__60