O verdejante espaço localizado em frente às Piscinas
Cobertas de São Brás de Alportel passa a contar, desde o dia 30 de março, com
um monumento emblemático para as gentes deste concelho da Serra do Caldeirão,
com a «aterragem» da réplica do hidroavião que Sacadura Cabral (piloto) e Gago
Coutinho (navegador) utilizaram na primeira travessia do Atlântico Sul, em
1992. A gigantesca obra de arte é da autoria de Carlos de Oliveira Correia, já
com várias esculturas espalhadas por diversos pontos do Algarve e
além-fronteiras, e que gentilmente a ofereceu ao concelho de São Brás de
Alportel, de onde era natural o pai de Gago Coutinho.
João Moura Ferreira, presidente da Direção da Associação Lusitânia 100 |
Foi a perfeita homenagem à primeira travessia aérea do
Atlântico Sul, que aconteceu a 17 de junho de 1922, num total de oito mil e 364
quilómetros, percorridos em 62 horas e 26 minutos de voo, com uma velocidade
média de 134 Km/hora. A viagem ligou quatro países, três continentes e dois
hemisférios e coincidiu com o primeiro centenário da Independência do Brasil.
Partiu de Lisboa, passou por Las Palmas (Canárias), S. Vicente e S. Tiago (Cabo
Verde) e os Penedos de S. Pedro e S. Paulo, Fernando de Noronha, Recife, Bahia,
Porto Seguro, Vitória e Rio de Janeiro.
Na época, Gago Coutinho criou um método completamente novo
de navegação aeronáutica astronómica de precisão, que revolucionou para sempre
a navegação aérea, e os respetivos aparelhos, nomeadamente um sextante com um
nível artificial e um corretor de rumos. Foram ainda elaborados mapas especiais
e realizados (antes da viagem) cálculos astronómicos pré-preparados para pontos
específicos de cada etapa. Esta confiança nos métodos astronómicos de Gago
Coutinho permitiu à dupla encontrar, no meio do mar, os Penedos de São Pedro e
São Paulo (pequenos rochedos com uma extensão de 250 metros), após uma etapa de
1652 quilómetros sobre o Atlântico, sem qualquer ajuda exterior, pois nenhum
dos três aviões utilizados na viagem possuía rádio.
O autor da obra, Carlos de Oliveira Correia |
No momento de inauguração do monumento, João Moura Ferreira,
presidente da Direção da Associação Lusitânia 100, destacou o «sonho»
concretizado por Carlos de Oliveira Correia e o «sonho» de Sacadura Cabral e
Gago Coutinho. “Esta viagem foi feita num avião de dimensões e autonomia
reduzidas e só seria possível se tivessem a certeza de onde conseguiriam
chegar. As viagens anteriores, realizadas no Atlântico Norte, tinham um
princípio de navegação muito simples: ir em frente até chocar contra um
continente”, referiu o estudioso, realçando o método concebido, na altura, pelo
geógrafo e navegador Gago Coutinho. “Um ano antes da travessia, fizeram uma
viagem de experiência à Madeira para validarem a navegação e, depois,
atiraram-se à grande aventura da primeira travessia aérea do Atlântico Sul.
Bastaria um erro de um grau em toda a trajetória e nunca mais se teria sabido
onde é que eles tinham caído. Este foi o grande sonho e grande feito de todos
os portugueses”, destacou João Moura Ferreira.
Vítor Guerreiro, presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel |
A obra de Carlos de Oliveira Correia durou mais de 500 dias
para ser executada e acabou por «aterrar» em São Brás de Alportel por
intermédio de Francisco Amaral, presidente da Câmara Municipal de Castro Marim,
que apresentou o escultor ao seu colega são-brasense Vítor Guerreiro. “Há 95
anos, dois homens de coragem mudaram para sempre a história da aeronáutica de
Portugal e do Mundo. A valentia e conhecimento de Sacadura Cabral e Gago
Coutinho são difíceis de descrever e é para nós um motivo especial de orgulho
saber que um destes heróis é descendente de são-brasenses. O pai de Gago
Coutinho, de seu nome José Viegas Gago Coutinho, vivia no Sítio da Mesquita e
transmitiu-lhe os valores e o espírito aventureiro das gentes são-brasenses”,
frisou Vítor Guerreiro.
Para o autarca, a inauguração desta instalação «Santa Cruz»,
contribuirá para a melhoria do conhecimento da história de Portugal, para além
de constituir um novo atrativo turístico para o próprio concelho. E Vítor
Guerreiro não terminou a sua intervenção sem deixar uma palavra especial de
agradecimento ao autor da obra, Carlos de Oliveira Correia. “Hoje, entrou para
a lista dos beneméritos de São Brás de Alportel, ao oferecer uma obra de arte
desta natureza e dimensão, onde investiu muito do seu trabalho e dedicação, e
também do seu dinheiro”.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: Daniel Pina