Criado por despacho de 4 de janeiro de 1889 do Ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria, Conselheiro Emídio Júlio Navarro, na altura com o nome de Museu Industrial Marítimo, o Museu Marítimo Almirante Ramalho Ortigão, o mais antigo do Algarve, assinalou os 130 anos de existência, no dia 4 de janeiro, com uma cerimónia no edifício do Departamento Marítimo do Sul, em Faro, que contou com a presença do Presidente da Câmara Municipal de Faro, Rogério Bacalhau, do Chefe do Departamento Marítimo do Sul e Diretor do Museu, Capitão-de-Mar-e-Guerra Nuno Cortes Lopes, da Diretora Regional da Cultura do Algarve, Adriana Nogueira, do Presidente da Região de Turismo do Algarve, João Fernandes, do Diretor Regional do IPDJ de Faro, Custódio Moreno, do Delegado Regional de Educação do Algarve, Alexandre Lima, e do Presidente da União de Freguesias de Faro, Bruno Lage, entre outras individualidades e familiares de Ramalho Ortigão.

O museu conta atualmente no seu espólio com uma variedade de peças ligadas ao mar, com a prevalência de modelos das artes de pesca mais usadas na região sul de Portugal, de onde se destaca o modelo de armação do atum, que mostra como se realizava, no século XIX e inicio do século XX, o «Copejo do Atum». Salta à vista, também, o magnifico tríptico em exposição, sobre esta faina, assinado por Carlos Porfírio. E desde o seu início, quando se encontrava na extinta Escola Industrial Pedro Nunes, hoje Escola Secundária Tomás Cabreira, sempre esteve ligado à Marinha e a Faro, mercê da coleção de modelos de redes, armações, aparelhos e barcos de pesca organizados pelo engenheiro hidrógrafo da Marinha Baldaque da Silva e que estiveram, inclusivamente, em Paris na Exposição Universal de 1900.

O Chefe do Departamento Marítimo do Sul e Diretor do Museu, Capitão-de-Mar-e-Guerra Nuno Cortes Lopes
Segundo recordou o Capitão-de-Mar-e-Guerra Nuno Cortes Lopes, até 1916 as coleções estiveram espalhadas por várias localizações em Faro, altura em que, após alguns sobressaltos, o museu foi formalmente entregue à Marinha e à extinta Escola de Alunos Marinheiros do Sul, situada no Paço Episcopal, na qual Ramalho Ortigão era instrutor. “Contudo, só após a extinção dessa escola, em 1926, e depois de muitas dúvidas sobre o destino a dar às coleções, se concretizou, em 1929, a entrega formal de todo o espólio ao Departamento Marítimo do Sul, precisamente quando Ramalho Ortigão desempenhava as funções de Adjunto do Chefe do Departamento Marítimo do Sul. Ainda assim, continuou-se num período de grandes incertezas, entre as quais algumas propostas de levar as coleções para Lisboa e posteriormente até para a Figueira da Foz, terra de Baldaque da Silva”, contou o Capitão-de-Mar-e-Guerra Nuno Cortes Lopes.

Após diligências de Ramalho Ortigão junto do Ministro da Marinha, foi-lhe prometido que as coleções não sairiam de Faro nem da Marinha, “onde era e é, de facto, o seu lugar”, tendo conseguido financiamento para edificar salas adequadas para o Museu e para iniciar o restauro das peças. O Museu Marítimo de Faro foi inaugurado já pelo Comandante Ramalho Ortigão nas suas novas instalações, em 1931, no edifício do Largo da Sé, local onde estava situado o Departamento Marítimo do Sul. “Numa muito justa homenagem, em 1946 o Museu Marítimo de Faro alterou a sua designação oficial para Museu Marítimo Almirante Ramalho Ortigão, quando este passou à reforma por limite de idade”, sublinhou o Capitão-de-Mar-e-Guerra Nuno Cortes Lopes, lembrando que, em 1964, a Marinha e o seu Museu se mudaram do Largo da Sé para as suas atuais instalações, junto à Doca de Faro.

Entretanto, na sequência de um incêndio ocorrido em maio de 2015, o museu esteve encerrado a visitas durante cerca de três anos e “passou por algumas incertezas em termos de localização”, reconheceu o Capitão-de-Mar-e-Guerra Nuno Cortes Lopes. “Felizmente, reabrimos o museu no dia 27 de julho do ano transato, o que só foi possível, não só devido ao incentivo de muitas pessoas que têm um enorme carinho por este museu, mas sobretudo pelo apoio que obtive do Museu da Marinha, tendo-se conseguido fazer as beneficiações mínimas essenciais para a sua reabertura ao público”.

...


Mas a atividade cultural do Departamento Marítimo do Sul não se restringe ao Museu Marítimo Almirante Ramalho Ortigão e, em 2018, o Navio Escola Sagres veio pela primeira vez a Faro, tendo sido visitado por cerca de 30 mil pessoas durante os dois dias em que esteve aberto ao público no Cais Comercial. Realce igualmente para as sete mil visitas que o Farol de Santa Maria teve no ano passado, a maioria das quais no Verão, no âmbito de um protocolo entre a Autoridade Marítima, o Instituto Português do Desporto e Juventude e a Câmara Municipal de Faro. Quanto ao Museu Marítimo Almirante Ramalho Ortigão, registou perto de 700 visitantes no segundo semestre de 2018, um número bastante digno que motivou a decisão de, em 2019, se alterar o horário de funcionamento do Museu, que passará a estar de portas abertas todos os dias úteis à tarde, revelou o Chefe do Departamento Marítimo do Sul e Diretor do Museu.

Ainda de acordo com o Capitão-de-Mar-e-Guerra Nuno Cortes Lopes, e na sequência da colaboração com a Universidade do Algarve, nomeadamente com a estagiária Carolina Ribaric do Curso de Património Cultural, surgiu a ideia de se criar um folheto do Museu que, com o apoio do Museu de Marinha, deverá ser produzido até final de janeiro. “Com a colaboração da Delegação Regional de Educação do Algarve vamos recomeçar também a receber visitas programadas de turmas de escolas, uma prática do passado que se pretende retomar e estimular. E iremos iniciar a implementação do protocolo entre a Marinha e o Município de Faro, assinado a 27 de julho, para recebermos o apoio que for possível da parte do Museu de Faro no que toca à beneficiação e restauro de peças. Queremos ainda instalar uma calha com uma cadeira para pessoas com mobilidade reduzida, por forma a permitir que todos possam visitar o Museu, estando-se a analisar a possibilidade de responder a um aviso que a CCDR Algarve lançou recentemente no âmbito do PO Algarve 2020 + Acesso”, adiantou o Capitão-de-Mar-e-Guerra Nuno Cortes Lopes em final de intervenção.

Adriana Nogueira, Diretora Regional da Cultura do Algarve
De sorriso radiante no rosto estava Adriana Nogueira, Diretora Regional da Cultura do Algarve, uma conhecida apaixonada por museus, as «casas das musas», “espaços fundamentais para a preservação da memória e para que as comunidades se revejam nelas próprias”. “A abertura de um museu ao público é um passo que se dá a favor da integração e contra a xenofobia, porque percebemos que todos somos semelhantes, que todos fazemos parte da comunidade humana. Faro é uma cidade que se preocupa em dar valor à nossa memória, por vezes contra ventos e marés, porque nos tempos modernos se procura frequentemente o que é novo. Só que nada se constrói do zero e a cultura é preservar o antigo, sempre a olhar para o futuro”, defendeu Adriana Nogueira.

A importância do Museu Marítimo Almirante Ramalho Ortigão foi igualmente destacada por Rogério Bacalhau, que reconheceu ainda o crucial papel do Comandante da Autoridade Marítima do Sul para a sua reabertura, “permitindo que este acervo daqui não saísse, como em tempos tememos”. “Foi um ato de boa gestão que muito valorizou as coleções que temos diante de nós e assim também se devolveu riqueza ao concelho, à região e ao país”, enalteceu o presidente da Câmara Municipal de Faro. “Este acervo, de enorme riqueza e grandiosidade histórica, representa a ligação e a devoção que os farenses e os algarvios têm para com o Mar e a Ria. Para o compreendermos basta olhar para os impressionantes painéis de Carlos Porfírio, para a coleção de Baldaque da Silva e para todos os preciosos contributos dados por aqueles que possibilitaram a abertura deste museu”

O Presidente da Câmara Municipal de Faro, Rogério Bacalhau
Em relação ao protocolo assinado com vista à recuperação, visibilidade e dinâmica do Museu Marítimo Almirante Ramalho Ortigão, Rogério Bacalhau reiterou a disponibilidade da autarquia e do Museu Municipal de Faro para colaborarem, dentro das suas possibilidades, para enriquecer a experiência do visitante, sem esquecer os compromissos com a conservação e o estudo dos acervos. “E para trabalhar para que a oferta museológica aqui patente receba uma nova organização, com maior coerência narrativa e uma lógica própria de exposição. Este esforço conjunto é o que nos merecem as nossas populações e todos aqueles que nos visitam, mas também a memória dos pais fundadores do Museu, uma memória que ganha um novo alento, na esperança que temos de um futuro ainda mais risonho para estas peças e para a riqueza da nossa cultura”, concluiu o edil farense.  

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina