Entre os meus amigos mais velhos, tenho tido o privilégio de conviver com pessoas que, após terem-se aposentado e os seus filhos saído da casa de família, não se renderam à dolência, à apatia e à inatividade. Após uma vida repleta e preenchida pelos afazeres profissionais e pessoais, resistiram ao apelo de calçarem as pantufas e o roupão e passarem grande parte dos dias com um comando de tv na mão.

De uma forma ativa, participativa e cooperante, constato que há cada vez mais gente a partilhar e a adquirir conhecimentos com os outros, procurando fazer do que a rodeia a sua casa também. Não é por isso de estranhar a quantidade de pessoas que, não se considerando reformadas para a vida, concedem os seus préstimos, de forma graciosa e altruísta, a instituições de índole variada. É esse o tipo de pessoas que, já não tendo as mesmas aptidões da juventude, têm agora o tempo e a vontade para trilhar caminhos que o percurso da vida, por variados motivos, lhes negou. É, pois, muito comum ver coletividades ligadas à cultura e ao desporto com imensos «seniores» no seu seio.

Partilho a opinião que muitas instituições de cariz artístico e desportivo, sem o assumirem nem declararem publicamente, têm também a função de interajuda e solidariedade social. Sendo a terapia ocupacional uma área interdisciplinar que utiliza atividades e intervenções como meio de promover a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida, as atividades culturais, desportivas e lúdicas desempenham um papel crucial como ferramentas terapêuticas. Essas práticas, além de contribuírem para a reabilitação física e mental, proporcionam oportunidades de inclusão social, desenvolvimento pessoal e alívio das tensões provocadas pelo stress diário.

As várias formas de expressão cultural, como a pintura, a música, o teatro, a dança e a literatura, revelam-se importantes instrumentos de terapia ocupacional. Estas atividades permitem-nos explorar e expressar emoções, muitas vezes de uma forma que as palavras não conseguem. A título de exemplo, refiro a musicoterapia, tendo em conta que é amplamente utilizada para ajudar pessoas com autismo, depressão ou Alzheimer, aliviando sintomas e promovendo conexões emocionais. Tornarmo-nos parte ativa de uma comunidade cultural pode ajudar a fortalecer a autoestima, oferecendo-nos, ao mesmo tempo, uma estrutura de apoio.

A prática desportiva tem um impacto direto na saúde mental, ajudando a combater a ansiedade, a depressão e o stress. Durante o exercício, o corpo produz endorfinas, conhecidas como «hormonas da felicidade», melhorando assim o humor e reduzindo o desconforto emocional. Os desportos de equipa, em particular, promovem o espírito de grupo e ajudam a desenvolver competências sociais. O desporto é uma das ferramentas mais eficazes na manutenção e reabilitação física, ajudando e potenciando a recuperação da mobilidade, da força e da coordenação motora.

A combinação de práticas culturais e desportivas em programas interdisciplinares tem demonstrado resultados promissores em variados contextos. Por exemplo, a incorporação da dança e da música em atividades físicas não só melhora a saúde física, mas também estimula o bem-estar emocional. A cultura e o desporto emergem como ferramentas indispensáveis na prática da terapia ocupacional. À medida que mais estudos exploram e validam estas práticas, a sua importância na saúde e na reabilitação continuará a crescer, beneficiando-nos a todos.

Agora que já leu estas palavras de incentivo, “Faça-se à vida!” e promova o seu bem-estar e, consequentemente, a sua felicidade. Porque conviver com gente bem-disposta é a melhor terapia para nos manter (bem) ocupados!

Paulo Cunha é professor

Crónica publicada em:

Foto: Daniel Santos