Depois de ter estreado no Teatro Ibérico, em Lisboa, João de Brito e o LAMA Teatro trouxeram até à sua casa, à cidade de Faro, mais concretamente ao auditório do Instituto Português do Desporto e Juventude, nos dias 6 e 7 de dezembro, o espetáculo autobiográfico «A Minha Casa é a A2», na qual retrata, de forma resumida e bem-disposta, o que têm sido os últimos 20 anos da carreira artística do ator e encenador farense. E grande parte desse tempo tem sido passado, de facto, nos 277,5 quilómetros que separam Faro e Lisboa, em múltiplas viagens pela A2 que se tornaram em lugares de reflexão por excelência, onde pensa sobre os problemas diários e as despesas mensais, onde dança ao ritmo de músicas parolas e desenha utopias.
Quem conhece João de Brito há muito tempo já o ouviu dizer aquela frase emblemática em diversas ocasiões, e tantas vezes as disse que acabou por se tornar em dois objetos artísticos, ou seja, uma peça de teatro e um livro, lançado precisamente no IPDJ, no dia 7 de dezembro, pela chancela da Arandis Editora. “Nas viagens, quando parava para descansar, tirava umas fotos para me entreter e pensava que um dia iria usá-las para qualquer coisa. A estrada é este não-lugar que une as duas cidades onde passo a minha vida e, como 2024 é um ano redondo para mim – 40 anos de vida e 20 anos de teatro – decidi avançar com um espetáculo que pretende ilustrar como seria a minha última peça antes de morrer, de me reformar ou de me dedicar a outra coisa qualquer”, explica o ator minutos antes do abrir de portas do auditório.
Ao longo da peça percebemos, então, que João de Brito aproveita grande parte do tempo em que vai a conduzir para fazer telefonemas para este e aquele, para trocar ideias e falar de projetos, e também para gravar pensamentos e reflexões. Mas, se as viagens são normalmente feitas sozinho, em palco não pretendia criar um monólogo clássico, daí ter convidado alguns estudantes de teatro para o acompanharem nesta aventura, designadamente, Afonso Ambrósio, Ana Lamas, Catarina Rebelo Guerra, Cristiana Gaspar, João Santos, Mariana Vicente, Nelson Reis e Tiago da Câmara Pereira. “Há um momento que retrata o meu funeral e aquilo que as pessoas diriam na ocasião, há um jogo de basquetebol entre o Farense e o Sporting, várias brincadeiras para dar corpo às minhas reflexões, numa mistura entre um lado jocoso e brincado e um lado poético de 20 anos de viagens”, descreve.
Duas décadas recheadas de projetos em que, depois de ter a ideia, João de Brito convida alguém para escrever, e depois compõe a dramaturgia. Esta foi, porém, a primeira vez que produziu um texto inteiramente a solo e que contém, para além da peça de teatro, mais 10 episódios extra. “Um dos episódios chama-se «chumbar pode ser fixe» porque, como tive que repetir o 12.º ano, tinha muito tempo livre e comecei a fazer teatro”, revela o entrevistado, que não sabe se esta experiência de escritor, puro e duro, é para repetir. “Foi muito desafiante porque não me sinto um escritor, tenho noções mais teatrais, de como transpor um texto para o palco, do que funciona ou não. O próximo espetáculo do LAMA não vou ser eu a escrever de certeza. A ideia foi minha, mas o texto vai ser escrito pelo Hugo van der Ding e depois fazemos a dramaturgia em conjunto”, adianta.
Se a escrita é uma incógnita para o futuro, mais certa parece ser a aposta em espetáculos que combinam várias componentes de multimédia, ao invés de ter um cenário tradicional. “Estamos sempre a pensar em estratégias diferentes para melhor comunicar com o público e o vídeo está na ordem do dia, na televisão, no telemóvel. Claro que vivemos sempre com o coração nas mãos, porque o vídeo é muito falível, mas tem resultado bem. Como sempre misturámos valências e disciplinas, estamos habituados a estes desafios e, neste caso concreto, o público acaba por fazer a viagem comigo”, refere João de Brito.
E porque o ano está a terminar, e outro começa logo a seguir, o que podemos esperar de João de Brito e do LAMA para 2025? “Temos sedimentado cada vez mais o nosso trabalho e levado peças a cena em teatro importantes de todo o país, o que é prestigiante para uma companhia farense. Enquanto ator, entrei na série «Faro» da RTP e nos «Morangos com Açúcar» para a Prime, vou aceitando as propostas que consigo, mas o LAMA leva-me muito tempo”, admite o entrevistado. “Em 2025 vamos fazer «O pior professor do mundo», escrito pelo Hugo van der Ding, outro sobre a destruição da carrinha que nos acompanha na «Carripana» e no «À Babuja», em conjunto com a Orquestra do Algarve, e terminamos com «A Menina Júlia» de August Strindberg. São três peças novas, mais o Festival MOCHILA e todos os projetos de mediação que temos. Já tenho que respirar fundo cada vez que penso no próximo ano”, conclui João de Brito, antes de subir ao palco para interpretar «A Minha Casa é a A2», peça em que contou com apoio à dramaturgia de Sandra Pereira e Sandro William Junqueira, com cenografia de Henrique Ralheta, figurinos de José António Tenente e sonoplastia de Noiserv.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #461 by Daniel Pina - Issuu
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