Escrevo no dia que se assinala os 40 anos da Adesão de Portugal (e Espanha) à União Europeia (então ainda CEE), concretizada pelas mãos de Mário Soares (que já a havia requerido, aquando de um outro seu governo em 1977) e de Felipe González.
Claro que antes disso já eramos europeus, daquela Europa que são ainda mais países do que os que integram este espaço político em que participamos de pleno direito e que, por causa da História e antiguidade de cada país membro, torna dificílimo o processo de decisão e de ação num mundo em que tudo já aconteceu antes de nos termos apercebido, quanto mais termos influenciado.
Parece-me inevitável, não só pela voragem dos acontecimentos imporem respostas preparadas, mas também, essencialmente, pela dimensão enquanto ator global, que alicercemos institucionalmente este espaço democrático com uma moldura política/legislativa capaz de dar impacto ao real valor do que representamos e somos. Ou perderemos já capacidade de intervenção eficaz.
Sim, parece-me inevitável a necessária e para mim desejada maior integração de políticas em geral pela via de um federalismo na União que respeite e em que se imponha o princípio da subsidiariedade, mantendo-se a soberania dos Estados.
No Algarve, espaço que nestas crónicas devo salientar, importa com Espanha, e no quadro da União Europeia, liderar a atenção às relações da UE com o Magrebe – Argélia, Líbia, Marrocos, Mauritânia e Tunísia, países do noroeste africano e com estreito contacto com a região do Sahel; assim como também com a extensa área de influência da Macaronésia (frente atlântica de Portugal, Espanha, respetivos arquipélagos, Cabo Verde, mormente agora com a expansão da ZEE – Zona Económica Exclusiva).
Espaços de oportunidades, mas da eclosão dos maiores desafios imediatos e que pela proximidade geográfica e cultural nos impactam diretamente. Ou ficamos só a ver na televisão o que se passa mais longe até que aconteça perto daqui.
O Algarve, na confluência destes eixos do Mediterrâneo e do Atlântico, estará no «olho do furacão» se assumir estrategicamente o seu poder de relação nas culturas do Mediterrâneo, sem nenhum embaraço de disputa territorial, e da frente até às Canárias, sem descurar a situação de segurança e instabilidade, mas também de desafios, de criar atenções até ao Sahel, região determinante onde se jogam interesses globais e com os países contíguos/próximos, entre os quais alguns membros da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa).
Já me esquecia… para isto é preciso que o Algarve se assuma pois. No quadro nacional e na sua relação com a Andaluzia, afirmando espaços de cooperação, na energia, no tráfego marítimo, no ambiente e nas áreas socias, com ações proativas a assumir com Lisboa, com Madrid, com Bruxelas, mas também com a Madeira, até Cabo Verde, etc.
E com as Américas, defronte da ZEE, nas áreas da investigação e ciência.
Temos(!) os atores e as instituições para tanto. Tenham(os) ambição.
Claro que também podemos continuar a ser levados. A entreter-nos. A ser apenas vítimas do que nos acontecer. E dizer que a culpa é dos da cor, dos ricos, ou dos pobres, dos políticos, etc.
Mas isso é o contrário ao que o futuro nos permite e nos aponta. Talvez levantar o olhar e ver com quem podemos ombrear. Reganhar dimensão, tendo estratégia.
A Espanha e depois o Egito vão assumir a liderança da Assembleia Parlamentar da União para o Mediterrâneo, de contacto político-institucional entre os países da Europa (os da UE e os outros) que estão relacionados geograficamente com os países do Norte de Africa (os do Magrebe e os outros até ao Oriente próximo).
E nós estaremos lá também. Calados ou agindo. Portugal poderá ter uma ação útil, concertada primeiro a nível interno, depois com Marrocos e Cabo Verde, com a UE, aproveitando a relação do Presidente do Conselho também com todos. Todos ganharão com tanto.
«Depois não se queixem…» e continuem a falar dos milhões dos fundos europeus, como se isso fosse o importante nesta conversa desde a adesão de Portugal.
Mas isto é um algarvio a pensar no dia em que nos damos os parabéns por estarmos na União Europeia desde há 40 anos, e desde há 900 na Europa, com estes vizinhos.
Paulo Neves é um «ilhéu», mas nenhum homem é uma ilha
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Foto: João Neves dos Santos