Joaquim Fernandes, presidente da direção da Casa do Povo do Concelho de Olhão

A Casa do Povo do Concelho de Olhão viu ser aprovada uma candidatura ao Programa Operacional Portugal 2020 para a criação de um Centro de Atividades Ocupacionais, ou CAO, uma resposta social que pretende disponibilizar condições que contribuam para a qualidade de vida de jovens e adultos portadores de deficiência, através da promoção de diferentes atividades e do apoio na superação das suas necessidades. O objetivo é potenciar o desenvolvimento possível das capacidades e competências sociais, sempre respeitando as características e a individualidade de cada utente, de modo a que estejam aptos para integrar a sociedade e, sempre que possível, o mercado de trabalho.

O CAO da Casa do Povo do Concelho de Olhão destina-se a 30 jovens com idade igual ou superior aos 16 anos, de ambos os sexos, portadores de deficiência severa profunda e que não reúnam as condições para o exercício, temporário ou permanente, de uma atividade produtiva. Uma problemática para a qual esta entidade ficou mais consciente em 2014, precisamente porque a filha de um elemento dos seus corpos socais carece de um apoio especial. “Visitamos as várias instituições que existem na nossa proximidade, sobretudo nos concelhos de Olhão e Tavira, e constatamos que há um défice enorme em termos de respostas. Fizemos uma aproximação à Segurança Social para averiguar da possibilidade de tentarmos ajudar e houve logo um grande interesse e empenho para que avançássemos com uma candidatura nessa área”, conta Joaquim Fernandes, presidente da Direção da Casa do Povo do Concelho de Olhão.  

Depois de conhecerem os requisitos em termos de espaço físico e de recursos humanos, seguiram-se os projetos de arquitetura e de especialidades e a entrega da candidatura ao Portugal 2020 no ano transato, com o sinal verde a chegar há poucas semanas. “Agora, temos que dar corda aos sapatos para arranjar os restantes 40 por cento para um investimento total previsto de cerca de 844 mil euros. O Município de Olhão mostrou-se bastante recetivo para acolher mais uma resposta nesta temática, porque a ACASO é insuficiente para as necessidades do concelho. A União de Freguesias da Fuseta e Moncarapacho também está disponível para ajudar financeiramente neste projeto e estamos convencidos que, com estes dois grandes apoios, iremos conseguir perfazer o investimento total”, afirma o dirigente, desejando que o novo Centro de Atividades Ocupacionais possa entrar em funcionamento em 2021.


Do bolo total farão parte alguns fundos próprios da Casa do Povo do Concelho de Olhão, contudo, conforme se sabe, muita vontade existe normalmente neste género de coletividades e associações, o pior é ter meios financeiros para concretizar todos os seus anseios. Por isso, vão ser organizados vários eventos de cariz solidário, o primeiro deles já no dia 22 de novembro, pelas 21h30, com uma grandiosa noite de fados protagonizada pelos conhecidos Pedro e Teresa Viola. “Deverá ter lotação esgotada porque, felizmente, contamos sempre com uma enorme adesão, quer dos nossos associados, quer da comunidade local, às atividades que desenvolvemos. Não é por acaso que, numa década, passamos de 50 para 2.460 sócios, atrevo-me a dizer que é um caso único em Portugal. Não estamos a falar de um clube de futebol, portanto, este crescimento é incrível”, destaca Joaquim Fernandes, justificando o sucedido pela capacidade de se ir ao encontro dos desejos e necessidades do seu público. “Não temos cá 2.460 sócios efetivos, mas temos 2.460 pessoas que já precisaram desta casa para qualquer situação que lhes foi útil, e muitas aqui permanecem porque temos sabido corresponder às suas expetativas”.

Ir ao encontro das necessidades das pessoas portadoras de deficiência, ou especiais, é ainda mais importante, porque longe vai o tempo em que estas crianças, jovens, homens e mulheres adultos, ficavam o dia todo trancadas em casa. Uma mudança de mentalidade que esbarra, porém, na insuficiência de respostas, admite Joaquim Fernandes. “Acredito que a nossa resposta vai ser diferenciadora, inovadora, porque não será um espaço construído para que as pessoas estejam fechadas entre quatro paredes. Será um espaço aberto, com uma atividade permanente e regular ao longo do dia, em que esses jovens ou adultos convivem e se sentirão inseridos na comunidade que frequenta habitualmente as nossas ações”, adianta o entrevistado, explicando que não estamos a falar da construção de um edifício de raiz, mas da extensão da sede da Casa do Povo do Concelho de Olhão. “Sabemos que estas coisas se fazem com pessoas com formação especializada, mas também contaremos com os nossos muitos voluntários para ajudar a dinamizar o CAO”, acrescenta.


O novo Centro de Atividades Ocupacionais vai funcionar, então, numa ampliação de espaço que não irá alterar a beleza arquitetónica do edifício, ou seja, não se vai criar nenhum pé direito superior ao rés-do-chão. Em paralelo, serão readaptados alguns espaços já existentes, nomeadamente de uma sala que será reconvertida em refeitório, e de uma outra que será ampliada para acolher a cozinha. Quanto ao número de vagas disponíveis, a previsão de Joaquim Fernandes é que sejam rapidamente preenchidas. “No protocolo a celebrar com a Segurança Social vão ficar definidos os critérios para a seleção destas pessoas «diferentes», não vamos conseguir responder a todas as necessidades, mas será um contributo importante”, frisa o dirigente. “Os CAO ficam munidos de técnicos especializados para criarem oportunidades para estas pessoas se inserirem no mercado de trabalho e se sentirem socialmente úteis. Nestas pessoas podem-se desenvolver certas capacidades e aptidões que, por vezes, os indivíduos considerados «normais» não as têm”, defende Joaquim Fernandes.

Resta saber, depois, se o mercado de trabalho está recetivo para integrar estes cidadãos, com o empresário Joaquim Fernandes a não ver nisso qualquer inconveniente ou dor-de-cabeça. “Quando o empresário sente que a responsabilidade social é algo para ser partilhada por todos, e que isso também constitui uma realização pessoal e da empresa, não há qualquer problema. Quando não existe essa visão, a batalha tem que começar logo no berço”, entende o presidente da Casa do Povo do Concelho de Olhão, garantindo que empenho e vontade não faltam para reunir o mais rapidamente possível os restantes 40 por cento do financiamento do CAO. “Eu ainda sou do tempo em que os Bombeiros tinham de fazer rifas para comprar o seu equipamento. A situação melhorou para eles, mas o movimento associativo continua a sentir muitas dificuldades e temos que arregaçar as mangas todos os dias para concretizarmos os nossos objetivos e missões”.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina