Este é o ano de todas as comemorações em torno da atividade turística. Os 55 anos da Região de Turismo do Algarve e agora os 30 anos da fundação da AHETA e mais à frente, ainda, a inauguração do Aeroporto.
Quando, em 1999, exerci o mandato, nem havia redes sociais, sequer ainda autoestrada para o Algarve e já tínhamos atingido as mais de 14 milhões de dormidas/ano na região. Quando, episodicamente, vejo grandes filas na aerogare, dou conta que hoje temos quase 10 milhões de passageiros/ano para um distrito de apenas 460 mil residentes.
Os empresários, os trabalhadores e, em geral, os residentes, têm feito um trabalho paciente, de cedências mútuas, mas em que invariavelmente o custo de vida é superior a outras regiões, mas os rendimentos, a taxa de abandono escolar precoce e as infraestruturas gerais mal-acompanham esta pressão.
Costuma, e bem, desejar-se: Parabéns, Felicidades e Muitos anos de Vida! Esta atividade é um caso de sucesso há décadas… o mundo “já esteve para acabar várias vezes” e o Algarve/Portugal, em termos internacionais, vem subindo a sua procura comparativamente com outros destinos com mais estrutura de base e riqueza nacional de partida connosco.
Ainda assim o Algarve é comumente entendido como um «destino maduro», mas não pode passar a um destino cansado. Talvez fosse altura de procurarmos os que bem nos conhecem, mas optaram por outras descobertas desde a sua juventude, e agora para eles somos já apenas uma memória.
Sim, aqueles que nasceram para o turismo entre nós, enquanto eram jovens e depois, porque este era o destino habitual dos seus pais, acharam que já nos conheciam e foram, com outros jovens conhecer outros lugares, cada vez mais fáceis de encontrar neste mundo global.
São dezenas de milhões! Nestas dezenas de anos que, quando os pais venderam as suas casas de férias (quando atingiam a idade de reforma ou por problemas de saúde), ainda eram jovens e hoje são turistas globais. Vão à descoberta, porque os destinos passaram a ser mais conhecidos, mais acessíveis. A nós acham que já nos conhecem. Esta é a terra dos seus cotas! É preciso inovar, fazer rejuvenescer o destino!
Temos que voltar a surpreender nos suportes de promoção, na relação, na paixão.
Atingimos mais receitas porque há maior procura.
Mas cada vez temos uma menor estada média e, portanto, atingimos maiores custos de operação e, havendo menor utilização das ofertas, haverá menor fixação e dispersão de rendimentos no território.
Tentamos, portanto, o menor custo de produção, também na mão de obra que precisamos para atender esta maior procura. Substituir os locais que não querem já algumas das profissões do turismo como trabalho porque penoso e com rendimentos em perca, contrários à evolução que sentem e é anunciada.
Ora, é notícia internacional que os residentes, tendencialmente, estão a colocar-se contra a atividade que «dá o pão»;
Em resultado os turistas vão perdendo o vínculo relacional com o destino, com as suas gentes e a nossa autenticidade/identidade. O destino é cada vez mais igual aos demais na forma de receber;
Parece que estou a trazer para a discussão uma preferência ou distinção étnica. Mas sim, temos que voltar a equilibrar a nossa relação local entre a riqueza gerada e a sua distribuição entre os fatores que o motivam e dão identidade. Sejam eles humanos, patrimoniais/culturais e ambientais.
Mas como é que podemos defender o que nos distingue na maneira de ser e de receber?
Quem nos fez destino de turismo foram as nossas paisagens, clima, localização/segurança e também a nossa cultura de forma alargada, a maneira de receber.
Pois, já não podemos receber assim porque não temos mão de obra.
Temos já caminhos difíceis a decidir:
Menos turistas? E/ou turistas diferentes? Que gastem mais e deixem recursos em todo o território é o que todos desejam. O Algarve, ainda assim, tem uma realidade de oferta que engloba várias ofertas diferentes para diferentes segmentos. Isso, é uma vantagem. Mas toda a oferta tem que ter, intrinsecamente, qualidade e segurança máxima para o seu segmento.
Fidelizar cada um hóspede/visitante que recebemos. Não desistir de cada um e faze-lo regressar. No mínimo transmitir aos seus amigos e colegas, portugueses e estrangeiros, a surpresa que o Algarve continua a ser.
No serviço que nos distingue. Para tanto precisamos de orientar incentivos, medidas de política, mas em qualquer cenário, teremos que assumir uma política para o nosso capital humano que verdadeiramente faz a diferença. A nossa maneira de ser.
Teremos que todos potenciar formação e acolhimento dos RH, a começar por uma visita ao museu etnográfico regional (piso 0 do edifício da CCDR Algarve) sem colocar de lado os manuais de gestão e finanças.
Vamos ter anos de verdadeiro desafio e transformação. Como até aqui e o mundo ainda não acabou embora as ameaças se mantenham e não contem a vontade crescente de viajar e conhecer nesta que é reconhecida como a maior indústria da paz.
Venham outros e mais anos, a competir, a surpreender e a receber bem!
Paulo Neves é um «ilhéu», mas nenhum homem é uma ilha
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Foto: João Neves dos Santos